Antártida: Paleontólogos do Projeto Paleoantar publicam estudo com fósseis de plantas

18 de dezembro de 2023 - 00:02

O estudo foi publicado pelo periódico científico Anais da Academia Brasileira de Ciências

Os cientistas Edilson B.S. Filho, Arthur S. Brum, Geovane A. Souza, Rodrigo G. Figueiredo, Cristian D. Usma, João H.Z. Ricetti, Cristine Trevisan, Marcelo Leppe, Juliana M. Sayão, Flaviana J. Lima, Gustavo R. Oliveira e Alexander W. A. Kellner apresentaram recentemente novos registros de interações inseto-planta do Cretáceo Superior na Ilha Nelson, Península Antártica. O conjunto de dados inclui 15 espécimes foliares da angiosperma Nothofagus sp., que preservaram vestígios da atividade de insetos. “O gênero Nothofagus é um elemento importante da paleoflora da Península Antártica durante o período Cretáceo, sendo, em algumas localidades, o fóssil mais comum em assembleias fossilíferas. Embora o estudo das interações inseto-planta no continente seja escasso, apresentamos registros inéditos dessa evidência para o Cretáceo Superior (Campaniano). Essas descobertas contribuem para uma compreensão aprimorada das relações ecológicas nos ecossistemas antárticos”, explica o professor da Universidade Regional do Cariri e doutorando na Universidade Federal de Pernambuco, Edilson Bezerra Dos Santos Filho, líder da pesquisa que envolve a colaboração de instituições brasileiras e chilenas.

Os fósseis apresentados no estudo foram coletados na localidade Rip Point, na Ilha Nelson, durante o período de dezembro de 2019 a janeiro de 2020, durante a participação de pesquisadores do PALEOANTAR na OPERANTAR 38. Os pesquisadores acreditam que, para além de contribuir para uma compreensão mais aprofundada do funcionamento dos ecossistemas, as evidências preservadas nas folhas possibilitaram a identificação da presença de insetos como um componente crucial das teias alimentares desses ecossistemas, há aproximadamente entre 80-70 milhões de anos atrás. “A Ilha Nelson, embora tenha sido pouco explorada em comparação com outras regiões da Antártica, destaca-se como um local de significativa importância, especialmente para a paleobotânica. Isso ressalta a necessidade de desenvolver novas pesquisas nessa área”, afirma a professora do Centro Acadêmico de Vitória, da Universidade Federal de Pernambuco, Dra. Flaviana Lima.

A Antártica é reconhecida como uma das últimas fronteiras do conhecimento científico, resultando em um aumento significativo nas visitas técnicas por pesquisadores de todo o mundo. Apesar do vasto potencial para investigações em diversas áreas da ciência, a complexidade de acessar o continente congelado continua sendo desafio substancial. Entre essas atividades, destaca-se o estudo de fósseis, as adaptações sofridas por esses organismos e as relações filogenéticas entre as diferentes espécies que habitavam o planeta. No período Cretáceo, a formação da Corrente Circumpolar Antártica, um dos fatores responsáveis pela glaciação do continente, ainda não havia ocorrido, resultando em um clima consideravelmente mais quente. “A Antártica, por exemplo, apresentava uma temperatura média em torno de 15ºC, o que permitia a formação de densas florestas habitadas por uma fauna diversa”, afirma o Dr. Gustavo Oliveira, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e orientador no Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal de Pernambuco. Hoje, a Antártica é considerada como um sítio fossilífero de grande interesse para a paleontologia global.

O PALEOANTAR, coordenado pelo Dr. Alexander Kellner, Diretor do Museu Nacional da UFRJ, e em parcerias com diversas instituições brasileiras, é um dos projetos financiados pelo Programa Antártico Brasileiro. “O fato de o Brasil estar fazendo pesquisa pioneira na Antártica destaca o papel importante da nossa nação no cenário geopolítico internacional, no que diz respeito a conhecer o passado e o presente daquele continente. Ao mesmo tempo, coloca o nosso país no centro das tomadas de decisões que afetarão o futuro do continente branco, o qual pertence a toda a humanidade”, acrescenta a Dra. Juliana Sayão, vice coordenadora do projeto e participante da pesquisa. “Todos ficamos muito gratos ao CNPq pela renovação deste projeto, o que garantirá novas pesquisas por mais quatro anos”.

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https://www.scielo.br/j/aabc/a/H39DmsfkXyHWmQF4kXrk8Cy/?format=pdf&lang=en