Brasil aumenta produção interna de alimentos e mundo desperdiça mais, alerta pesquisadora durante RR SBPC

9 de maio de 2017 - 01:52

images/stories/img_3176.jpg

“Em 40 anos, o Brasil passou da total dependência de exportação alimentar, para o papel de grande provedor de alimentos do mundo”. A afirmação é da pesquisadora da Embrapa, Maria de Fátima Grossi de Sá. Durante sua palestra sobre “Biodiversidade e Biotecnologia”, ministrada no quarto dia da Reunião Regional da Sociedade Brasileira do Progresso para a Ciência (RR -SBPC), no campus Pimenta, da Universidade Regional do Cariri (URCA), em Crato. Ela traçou uma linha cronológica da agricultura no Brasil nas últimas quatro décadas e destacou os avanços conquistados pelo setor, dificuldades enfrentadas, além de fazer uma projeção para os próximos anos.

As perdas de alimentos também são apontadas com preocupação pela pesquisadora. Hoje, 30% de todo alimento do mundo é perdido. Junto a essa porcentagem, “vão mais 30% da energia que é utilizada para produzir esses alimentos. Então perdemos alimento e energia, é uma questão que tem de estar muito bem colocada na agenda futura”, alertou.

No início da década de 60, explica a pesquisadora, a maioria dos alimentos consumidos pelos brasileiros vinha de fora. “Exportávamos quase tudo; leite, carne, arroz e uma infinidade de coisas”, fase esta que ela classifica como “dependência”. Nos anos seguintes, com a criação e implantação de políticas públicas, o cenário começa a se alterar. Segundo Grossi, “esse foi o grande marco para o desenvolvimento efetivo da agricultura brasileira”. Concomitante às novas políticas, a pesquisadora destaca duas novas fases da agricultura: “Competências” e “Inovações”, as quais, juntas, foram responsáveis por gerar competitividade ao Brasil frente a outras nações.

“O Brasil tem uma vasta dimensão territorial e goza de ampla biodiversidade, mas nada era aproveitado, prova disso é que há 40 anos quase não tínhamos áreas produtivas. Com as inovações no setor, começamos a mudar. Saí de cena a agricultura tradicional e surge a agriculta cientifica e tecnológica. Àquelas áreas do país que eram improdutivas, pobres e inférteis, passam a serem produtivas”, destaca. Em sua avaliação, esse salto deve-se, sobremaneira, “a inovação dos agricultores brasileiros”.

Atualmente a realidade é outra, lembra Fátima Grossi. “A importância do agronegócio para o Brasil pode ser corroborada de várias maneiras, como por exemplo, pelos números da economia do país. O setor representa 30% do total do Produto Interno Bruto (PIB)”, pontua a pesquisadora da Embrapa, órgão que, segundo ela, teve importante papel na evolução da agricultura. Hoje são 46 unidades que atuam em todas as regiões do Brasil. “Essa descentralização permitiu aproximar as pesquisas agropecuárias do mundo real, pois cada unidade conhece a região na qual está inserida”, destaca.

Ela comemorou também o alto número de universidades com foco na agricultura, ao avaliar que a ciência contribuiu de forma intensa para o desenvolvimento da agricultura. “Existem 70 universidades com algum foco na agricultura. Esse número se reflete na posição do Brasil no ranking das nações em pesquisa cientifica. Estamos no topo no que se refere à agricultura, no geral, só ocupamos a 13ª posição”.

Apesar dos robustos números e do destaque no cenário nacional, Grossi elencou alguns desafios para os próximos 20 anos. “As mudanças climáticas certamente merecem atenção especial, principalmente se lembrarmos de que estamos posicionados no Cinturão Tropical. A necessidade de descarbonizar a agricultura, é outro ponto. Teremos que pensar em tecnologias e caminhos criativos para reduzir essa contribuição da agricultura para o processo de mudanças climáticas. São dois pontos que possuem uma demanda muito forte”, disse.