Cratense egressa da URCA é aprovada para carreira diplomática
7 de novembro de 2025 - 15:50
A primeira mulher do Cariri a ser em breve diplomata e a mais jovem do interior do Ceará, acaba de ser aprovada no Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD), um dos mais difíceis do Brasil. Shayana Sarah
Mousinho, 25 anos, é egressa do Curso de Direito da Universidade Regional do Cariri (URCA) e foi docente do campus de Iguatu, onde também cursou pós-graduação em Direito Constitucional. Ela recebeu, na última quarta-feira, 5, o resultado final da homologação da aprovação no concurso, realizado em Fortaleza. O que veio como uma grande surpresa.
O esforço não foi pouco. Ela concorreu a uma das cinquenta vagas oferecidas, com 9 mil candidatos. Ficou em oitavo lugar entre os 10 cotistas. E sua alegria ainda é maior, porque além de ser uma mulher negra a conquistar uma vaga tão importante, está inserida no maior percentual de mulheres já aprovadas neste concurso, que chegou a 42%. Além disso, a jovem cratense tem mais uma façanha, por ter alcançado o resultado em um ano e meio quase reclusa para estudos de, em média, 8 horas diárias. Normalmente, o prazo para alcançar o êxito obtido pela futura breve diplomata é de 5 anos de dedicação aos estudos.
Shayana formou-se na URCA em Direito aos 21 anos. Atualmente está cursando o mestrado em Direito Internacional na Universidade Católica Argentina – UCA e trabalha no Ministério Público, em Juazeiro do Norte. Para ela, que transborda de alegria e em êxtase pelo resultado conquistado, esse é um sonho que veio perseguindo com muito afinco. Para se ter uma ideia, a advogada foi aprovada quatro vezes para cursar Medicina. Mas, a determinação apontava noutro rumo e ela persistiu no objetivo.
“Para mim, essa conquista é um sonho gigante, afinal, antes de entrar para o Direito, passei quatro vezes em Medicina, mas desisti do curso já pensando na diplomacia”, afirma. Ela relata a sua dedicação à pesquisa na universidade, o incentivo de pessoas importantes e até chegou a publicar um recorte do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Polônia. “Por ser um concurso caro e sabidamente elitista, busquei me contentar com a docência e juntar um arcabouço financeiro para estudar com mais tranquilidade”, conta. Shayana agradece principalmente aos seus avós, José Hélio Ribeiro e Maria de Lourdes, que acreditaram nela e investiram, “não só com recursos, mas com tempo, amor e dedicação”, afirma.
Preparação
Durante a graduação, e logo após, a advogada se dedicou, de forma despretensiosa, a ler muita bibliografia e a aperfeiçoar o inglês e o espanhol, idiomas que já tinha base desde a adolescência. O francês foi outra língua que lhe rendeu a sua atenção e dedicação, durante três anos. Mas ela conta que esse não foi o primeiro concurso realizado. Já havia tentado em 2022, como graduanda. “Fiz o certame pela primeira vez para sentir o peso e, em 2024, fui premiada com o Programa de Ação Afirmativa para Afrodescendente, o que me permitiu receber uma bolsa federal de R$ 30 mil para estudar”, relata.
E foi graças a essa premiação, em 2024, que a egressa da URCA decidiu investir e estudar de verdade, fazendo cursos e exercícios voltados para o concurso. No entanto, as obrigações como professora, os estudos e até mesmo a insegurança emocional, pela pouca idade ainda, acabaram não dando total estrutura para seguir até a última etapa do concurso na primeira tentativa. E olha que tem aspirantes que demoram anos para chegar até a última etapa do concurso.
A dedicação custou a decisão de sair da docência. E não só isso. O período, sem dúvida, foi exaustivo, em que foram sacrificados finais de semana, até mesmo aos domingos, a ausência do convívio com a família e amigos. “Mas, após um ano e meio, estou aqui aprovada e não me arrependo”, diz. Ela passa a fazer parte da turma histórica de maior número de mulheres aprovadas para seguir a carreira. “Representa um marco, por eu ser uma mulher negra, interiorana, nordestina, sem recursos financeiros, o que inclusive me impediu de estudar exclusivamente para o concurso. É definitivamente a realização de um sonho e confesso que até agora nem acredito”, ressalta.
A futura diplomata cratense destaca que a URCA foi essencial na sua trajetória, como base acadêmica e no incentivo que recebeu de docentes da instituição, além de ter conquistado o seu primeiro emprego como docente temporária de Direito Internacional, o que ela confessa ter contribuído ainda mais na fixação de conteúdo. Essa disciplina, mais a área Constitucional do Direito, estão entre as mais importantes para avaliação. “Não fiz cursos extensos de Direito voltados ao concurso, justamente devido à formação que a URCA me propôs”, diz.
O CACD é um dos certames mais tradicionais do Brasil e tem a fama de ser o mais difícil. Shayana recebeu nesta quinta-feira, 6, um e-mail do Itamaraty informando que a nomeação deve sair em 31 de dezembro deste ano e a posse ocorrer na segunda quinzena de janeiro. Após assumir o posto, em Brasília, os aprovados passarão por um curso de formação por cerca de um ano, no Instituto Rio Branco. “De lá, partiremos para onde o Brasil precisar de nós”, ressalta essa jovem do Crato e do Cariri, que faz história e reconhece o caminho por onde passou. “É um orgulho fazer parte da história da URCA”, completa.