III Seminário Nacional de História e Contemporaneidades debate momento atual do Brasil

8 de março de 2018 - 15:03

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Está sendo realizado na Universidade Regional do Cariri (URCA), o III Seminário Nacional de História e Contemporaneidades – Brasil: Autoritarismo, Cultura Política e Direitos Humanos. Em sua abertura, o evento contou com a presença de professores, Pró-reitores, coordenação e chefia de departamento do curso de História da URCA, além da coordenação do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da Instituição. O Reitor em Exercício, Professor Francisco do Ó de Lima Júnior, esteve representando o Reitor da URCA, Professor Patrício Melo.

O evento será encerrado neste dia 9, com a Conferência – Brasil: Passados Presentes – Golpes e Democracia, da Profa. Dra. Hebe Mattos (UFF), e Mediação: Prof. Dr. Joaquim dos Santos (URCA).

Foram homenageados durante o Contemporaneidades, o professor do curso recentemente falecido, José Bendimar de Lima, na abertura, além da Reitora Violeta Arraes e a diretora da Fundação Casa Grande e Arqueóloga, Rosiane Limaverde.

Segundo a coordenadora do evento, professora Maria Sonia de Meneses Silva, o seminário convida à reflexão, mas sobretudo à resistência. O primeiro encontro aconteceu em 2013, com a temática As Dimensões Políticas da Escrita da História e o Futuro do Passado. Neste momento, o desafio foi pensar os meandros políticos presentes na produção historiográfica, além de interrogar sobre o futuro do passado e o ofício do historiador. “Uma provocação para tentar imaginar o fazer a partir de um presente em ebulição”, disse. Era o momento das grandes manifestações populares que tomaram as ruas no mês de junho daquele ano. Mesmo agora, se tenta compreender as complexidades.

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Pauta dos momentos atuais

O Reitor em Exercício da URCA destacou as temáticas atuais que estarão sendo debatidas. Ele disse que o evento se apresenta como uma agenda consolidada na área de história, com um protagonismo muito intenso da URCA e do Departamento de História como condutor dessa terceira versão. Além disso, se propõe a uma instigante investigação, com os debates dos temas atuais e com uma pauta importante a ser estudada, com desafios a serem interpretados, desses momentos de incertezas e contradições da atual realidade.

Ainda segundo Lima Júnior, o evento traz uma programação arrojada, com inovação nos debates, e uma composição do melhor que a Universidade pode trazer, que é a produção de conhecimento, expressa em toda a sua diversidade. Além de conferências, palestras e minicursos, serão realizadas apresentações de teatro é uma exposição de artes plásticas.

“O quadro político mais do que tudo mostra retrocessos, com o surgimento de ideias empáticas, totalmente inadequadas, e os riscos, com algumas possibilidades que nos amedrontam, e é importante estudar essa possibilidade”, diz. Ele ainda classifica o seminário de contemporaneidades como uma vanguarda, com o privilégio e satisfação de contar com grandes pesquisadores.

Trabalho coletivo
A coordenadora Sônia Meneses destacou a participação dos envolvidos na organização, por meio de um trabalho coletivo que envolveu oito meses de atividades. Ela explicou o formato do evento, como uma sala de casa, abrindo espaço para uma conversa sobre o difícil momento que o Brasil passa.

A Professora destacou em seu discurso de abertura, o reacionarismo que emergiu como bandeira e instigou uma crescente onda de intolerância na cena pública, o que levou a inspirar a segunda edição. “Estávamos pensando o passado em tempos de extremismos e exclusões em 2015. Naquele ano, rapidamente passamos para um processo de mudanças drásticas do país. Os grupos conservadores, formados nas ruas em 2013, agora haviam se tornando um movimento organizado em frentes diversas, especialmente redes sociais e financiados por grandes empresas, políticos e difundindo informações caóticas, através de fakenews. Esse movimento também foi sustentado por um congresso que teve a bala e a Bíblia com temas centrais”, afirmou.

De outro lado, conforme destaca, o poder judiciário mostrou-se alinhado às demandas políticas advindas desses grupos e se proliferaram objetos esdrúxulos à interpretação da lei, arbitrariedades jurídicas e de ações policiais espalhafatosas, amparados pelos grandes meios de comunicação. Ela avalia que, em meio a tudo isso, as esquerdas se mostraram incapazes de demonstrar uma reação à altura dos processos em curso.

Crise democrática
Diante de tais questões, a docente Sônia Menezes avalia que vivenciamos em menos de um ano o desmantelamento de um governo eleito, num golpe jurídico, parlamentar e midiático. “Em 2016, a votação do falacioso processo de impeachment que derrubou Dilma Rousseff, pode ser descrita como um dos episódios mais vergonhosos e indignos de nossa história. Fomos confrontados por um congresso zombador, que teve como máxima argumentativa o cinismo, o escárnio e o total desrespeito pelas instituições democráticas do País. Em 18 meses, somente 18 meses, retornaram ao nosso cotidiano situações como intervenção militar, caça aos comunistas, censura, fome, desemprego, ataque às universidades, perseguição a professores. Golpe!” , afirma.

Em nome da organização do III Contemporaneidades, a Professora da URCA reafirma o caráter golpista do movimento e processo de usurpação dos direitos ora em curso no País. Ao mesmo tempo, desejou uma semana rica em reflexão, do livre pensamento, do respeito às diversidades étnica e de gênero e da reafirmação da Universidade. “Temos que defender a Universidade como espaço de defesa do conhecimento, da cidadania e dos direitos humanos”, completa.

A palestra de abertura foi proferida pelo conferencista, professor Virgílio Arraes, da Universidade de Brasília (UnB), adjunto do Departamento de História. Ele destacou no início da palestra movimentos de luta pela instalação da República no Brasil e a participação do Crato, com personagens como Bárbara de Alencar. O docente fez uma breve análise do momento de incerteza que passa o Brasil, em véspera de eleição, ao mesmo tempo em que permeia a cultura do autoritarismo nesta realidade. Ele questionou que, mesmo diante desse momento eleitoral, porque medidas tão adversas aos interesses do povo estão sendo tomadas.

Saiba mais sobre este evento

Em sua terceira edição, o Seminário Nacional de História e Contemporaneidades traz para o debate os desafios de refletirmos problemas relacionados ao contexto nacional e o papel da história como espaço de ponderação acerca de fenômenos ligados ao tempo presente, assim, escolhemos como tema da edição: BRASIL: AUTORITARISMO, CULTURA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS.

Desde sua primeira edição, em setembro de 2013, o Contemporaneidades tem se caracterizado por ser um evento preocupado em debater temas pulsantes de nosso tempo. Nesse sentido, ressaltamos a necessidade fundamental de uma articulação das questões históricas com seu próprio tempo. Este ano, colocando em primeiro plano o Brasil, pretende-se problematizar a emergência de discursos conservadores no cenário nacional, os desafios da crise política e institucional pela qual passamos, além dos recorrentes ataques aos direitos humanos no país. Nosso objetivo com isso é recolocar tais processos numa perspectiva temporal a qual possibilita a construção de explicações para a compreensão presente, bem como, a reflexão sobre alternativas de futuro.

Ao pontuarmos essas questões, o LAPEHC – Laboratório de Pesquisas em História Cultural do Departamento de História da URCA, juntamente com o DINTER de História (UFF-URCA) e o Mestrado Profissional em Ensino de História da URCA- ProfHistória e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID pretendem fomentar a discussão de problemas do Brasil contemporâneo, bem como, as apropriações do passado em meio a um processo tão dramático de transformações. O III SNHC propõe não apenas a reflexão de tais problemas, mas um debate que possa apontar alternativas possíveis para a crise na qual nos encontramos.