Mais uma descoberta inédita de espécie camarão evidencia potencial de pesquisa fortalecido na Região do Cariri, através da URCA
5 de maio de 2018 - 14:23
Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA), através do Mestrado em Bioprospecção Molecular, apresentaram, durante entrevista coletiva, na manhã desta quarta-feira, 2, no campus Pimenta II da Instituição, mais uma descoberta inédita de fóssil na Bacia Sedimentar do Araripe. Trata-se da nova espécie de camarão plantonico da família Luciferidae. O fóssil, de mais de 110 milhões de anos da era Cretácea, representa a primeira espécie dessa família para o mundo.
A descoberta vem da família de camarões diminutos das regiões marinhas, com apenas sete espécies viventes, divididas em dois gêneros. O grupo tem como uma de suas principais características, a bioluminescência, ausência de brânquias e redução de pereiopodes (patas).
Representatividade
Outra grande característica e que torna descoberta surpreendente é a delicadeza dessa espécie, de rara capacidade de preservação. A bacia sedimentar, mesmo com um período sob influência marinha com ocorrência há cerca de 110 milhões de anos, a presença de fósseis tipicamente de áreas de mar aberto é um fato que ainda não tinha sido registrado para a área. Conforme os pesquisadores, essa nova descoberta representa um forte indicativo da chegada abrupta de águas oceânicas por ocasião de tsunamis, por exemplo.
A apresentação da nova espécie de camarão foi inicialmente realizada pelo coordenador do Laboratório de Paleontologia da URCA, Professor Dr. Àlamo Feitosa. Ele destacou as peculiaridades dessa nova espécie e a representatividade do achado.
As pesquisas realizadas para identificação do material foram realizadas pelo Professor Álamo, além dos pesquisadores Alysson Pinheiro e William Santana, Professor Visitante da Instituição. A importância dessa descoberta, conforme os estudiosos, está principalmente pelo seu ineditismo, por não haver nenhum fóssil dessa família. Além disso, mostra que o grupo é antigo, por ter resistido à hecatombe que culminou com o fim da era mesozóica.
Segundo Álamo, a presença de camarões planctônicos, ou seja, de mar aberto, indica a provável presença de tsunamis na área, além de perspectivas para novas interpretações sobre a dinâmica de transgressões marinhas ocorridas no Cretáceo Inferior.
Homenagem
Na ocasião, foi homenageado durante o anúncio da descoberta, o curador de crustáceas do museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Tavares. Ele publicou mais de cem artigos científicos, em sua grande maioria sobre crustáceos, além de ser orientador de 15 mestrados e 12 doutorados.
O camarão é um crustáceo com cinco pares de patas, decapoda. Pertence a esse grupo, além dos camarões, as lagostas e caranguejos e a maior ordem dos crustáceos, e somam quase um quarto de todas as espécies conhecidas. Os pesquisadores destacam as características singulares dessa espécie, al[em do seu aspecto bioluminescente, da superfamília Sergestoidea, cujo gênero tipo é o Lúcifer. Essa família é composta por camarões degenerados.
Àlamo Feitosa ressaltou a importância de divulgar essas descobertas, em virtude da relevância. Principalmente por ser um tipo de achado que tem um problema de fossilização. São mais de 70 mil espécies de crustáceos, a maioria formada por espécies marinhas, sendo que na água doce também há exemplares do gênero. Durante a mostra, foi exibido um vídeo com o tipo de camarão. Uma espécie apresentada no sudeste asiático, que está no planeta há mais de 120 milhões de anos.
O fóssil do Liciferidae foi encontrado na cidade de Triunfo, no Pernambuco, no Sudoeste da Bacia Sedimentar do Araripe, nas minas de gipsita. O material foi achado em uma lâmina, num nível fechado, repleto de camarões. Alguns deles inéditos, que continuam sendo estudados, para serem anunciadas novas descobertas na área, conforme afirma o pesquisador, Alysson Pinheiro. Ele afirma que no início da descoberta ainda não tinha a dimensão do material encontrado.
Bioluminescente
O brilho da luz emitida pelo camarão, segundo o pesquisador, é uma forma de defesa para escapar dos predadores. Ele não tinha as patinhas da frente. Algumas eram inexistentes e todos esses aspectos fizeram com que fosse denominado da família do Lucifer. Ele agrega morfologia corporal alongada.
Uma das grandes hipóteses para o camarão ter chegado até aqui, foi através de tsunamis violentos, o que fez o mar entrar pelo menos 500km de costa adentro. O que abre a possibilidade de compreender as perspectivas das transgressões marinhas. “São essas coisas que vão acrescentando conhecimento. Por isso, o estudo da Paleontologia, numa dimensão de compreender o futuro”, diz ele.
Instituições de fomento
Ainda foi ressaltada a importância das instituições de fomento, para realização de trabalhos de pesquisa dessa amplitude, entre elas o CNPq, CAPES, Funcap, entre outros apoiadores. Com isso, fazendo com que doutores do interior tenham capacidade de produzir. O Professor Alysson destacou as características de território do Geopark, o que fortalece a importância de conhecer mais sobre a área de reconhecimento internacional, além da própria URCA, com o apoio da Reitoria, que lança um olhar diferenciado para dar essa possibilidade de trabalho que está sendo desenvolvido.