Professora da URCA defende tese de doutorado e propõe criação do Museu da Xilogravura e da Arte Popular
31 de julho de 2020 - 09:47

A Professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA), Sandra Nancy Freire, atual Pró-Reitora de Extensão da Instituição, defendeu, no dia 16 de julho, tese de doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), sob o título “Do Cariri parao Mundo, a Musealização da Xilogravura de Cordel e os Sentidos da Arte Popular”. No trabalho ele desmistifica de forma mais aprofundada a história da xilogravura e personagens importantes nesse processo, além de trazer a relevância do tema, apontando caminhos de fortalecimento, com a proposta de criação do Museu da Xilogravura e Arte Popular no Cariri.
Participaram da apresentação os professores Régis Lopes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rogeria de Ipanema, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Ana Mauad, da Universidade Federal Fluminense (UFFC), que juntos estavam compondo a banca, além de Ricardo Gomes de Lima, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e do orientador, Professor Dr. Paulo Knauss.
Após a apresentação pormenorizada de todos os capítulos, foram realizadas avaliações e ponderações da banca sobre o trabalho, com diversas proposições. A tese foi, inclusive, indicada para publicação, além de sugerida para concorrer ao prêmio de melhor da Universidade Federal Fluminense e ao Prêmio Silvio Romero. Para a autora da tese esse foi um momento muito feliz, depois de quatro anos enfrentando um grande desafio.
A Professora Rogéria Ipanema destacou a importância do material, por dialogar com a criação de um museu para a universidade. E ressaltou a relevância na educação, por parte das universidades, no contexto de formação, e no cotidiano da vida cidadã brasileira. Ela realizou avaliações sobre o trabalho e trouxe observações, dentro do universo da arte. O pesquisador Paulo Knauss disse que o doutorado coroa a trajetória da professora e todos os trabalhos que ela fez sobre os estudos do patrimônio material e imaterial do Cariri.
A tese foi desenvolvida no campo visual. A parte teórica trabalhada pode compreender as práticas de colecionar, fazer exposições, edição, a construção do olhar, trazendo para a discussão esse sentido de uma experiência histórica de renovação, do modo de ver a xilogravura, antes de cordel, e com interferência de agentes e instituições, como o museu, onde passa a ser reconhecida como arte.
O cordel, a xilogravura, uma trajetória
A tese tem cinco capítulos, que discute e xilogravura, do seu momento de autonomia e como foi vinculada ao cordel; mostra tensões no momento em que foi vinculada a zincogravura e xilogravura, porque os folcloristas diziam que a xilogravura era mais antiga do que a zincogravura, o que não é. E houve um discurso de morte do cordel, conforme a pesquisadora traz na tese, de que a xilo que estava desaparecendo, o que não aconteceu. “A cultura é dinâmica, se transforma. O cordel foi para o rádio também”, disse Sandra Nancy, ao exemplificar processos de transformação ocorridos.
Com esse discurso de morte do cordel e xilo, analisado pela pesquisadora, veio a ideia de colocar os objetos relacionados à essas artes para os museus. Se acreditava que estava desaparecendo, daí a criação do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), que abriga boa parte desse material representativo de gravuras no estado.
Na segunda parte da tese, a professora traz exatamente os atores responsáveis pela xilogravura, além da renovação do modo de vê-la. Entra nesse caso em cena Reitor Antônio Martins Filho, o artista Floriano Teixeira, que fazia xilogravura, Lívio Xavier, que trabalhou junto com o Reitor, e Sérvulo Esmeraldo, artista cratense, que morou na Europa e tinha um conhecimento mais amplo da xilogravura. Foi um dos principais responsáveis para a xilogravura se tornar arte.
A relevância das pessoas terem espaço nesses equipamentos, mesmo que não seja com um objeto de arte, conferiu uma valorização e consagração desse material. Fica exposto ao olhar. Coleções que não estão mais no Cariri foram compradas de José Bernardo da Silva e levadas para o MAUC, que confere importante acervo.
O álbum de xilogravuras, em que Sérvulo Esmeraldo entra como mediador, traz um olhar diferenciado da arte consagrada para a xilogravura do cordel, e com essa ideia ele vai encomendar ao Mestre Noza uma Via Sacra e a Walderêdo Gonçalves o Apocalipse. Ele teve que voltar para a Europa e levar o trabalho do Mestre Noza, que se tornou consagrado.
Para dar mais destaque a todo esse acervo foi publicado o álbum de Noza, em livro, através do editor Morel, e a pesquisadora fala do olhar de Sérvulo sobre o álbum, em que o artista plástico cratense aborda Juazeiro do Norte e o misticismo, além de apresentar a xilogravura, o Nordeste. Ele trata desse olhar como experiência histórica, e do Cariri para o mundo tem uma continuidade, com a escola dos gravadores e Juazeiro do Norte, trazendo importantes nomes como o de Stênio Diniz, e a própria Gráfica Lira Nordestina. Por isso, a trajetória do Cariri para o mundo.