Seminário instiga pesquisas sobre povos indígenas no Cariri
29 de agosto de 2019 - 10:52
Uma nova visibilidade para a ancestralidade da região foi debatida durante o I Seminário Nacional Povos Indígenas do Cariri Cearense, em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, durante os dias 9 e 10 de agosto. Os trabalhos envolveram mesas de debates, oficinas, como parte da programação ocorrida na comunidade de Poço Dantas, em Crato.
O evento realizado através da Universidade Regional do Cariri (URCA), tem a finalidade de fortalecer a pesquisa na área, e debater diversas ações que já estão em curso, inclusive ampliado a divulgação da história e lutas por afirmação e conquistas dos povos originários.
Uma das mesas de debate teve como temática Mesa de Afirmação étnica e organização comunitária: a presença Indígena no Ceará contemporâneo, contando com os palestrantes Teka Potiguara (Liderança do Movimento Potigatapua – Monsenhor Tabosa), Teresa Kariri (Pajé Kariri-Crateús), Cristina Kariri-Crateús (Liderança Kariri-Crateús, professora e diretora do Museu Teresa Kariri), Rosa Kariri (Liderança Kariri-poço Dantas), Cacique Pau de Ouro (Liderança Kariri-poço Dantas). A programação contou com a mediação do João do Crato.
Uma ação específica foi realizada na própria comunidade, com oficinas circulares, danças, cortejos, grafismos indígenas, além de uma oficina de cartografia social. Territorialidade e memória dos povos indígenas do Ceará, filmes com relatos da jornada de lideranças indígenas dos povos tremembé, entre outras ações foram trabalhadas.
O seminário contou com a realização dos Núcleos de Pesquisa Estudos de Descolonização do Saber, por Tiago Florêncio. Questões relacionadas aos direitos humanos fundamentais contaram com debates coordenados pelo Professor Doutor, Patrício Melo, que abordou a história dos direitos indígenas.
Pesquisas
O objetivo foi de movimentar pesquisas sobre os povos indígenas dentro para próprio Universidade. O evento contou com a abertura do Reitor da URCA, professor Francisco do O’ Lima Júnior, que ressaltouessa agenda de pesquisa como uma das demandas importantes da universidade. “O evento reitera o papel da URCA dentro de um resgate humanizado de pontos polêmicos envolvidos na constituição da nossa história. A Universidade tem essa obrigação de reconhecimento das diversas etapas de formação do nosso povo, com o desafio dessa agenda, principalmente se tratando do Ceará”, afirma.
O caso cearense tem uma particularidade da agenda, pois a miscigenação aconteceu de uma forma mais violenta, conforme o Professor e um dos coordenadores do evento, Patrício Melo. Segundo ele, isso gerou dificuldades para a posteridade de reconhecer a participação dos povos indígenas e dos negros. Ele chama a atenção dessa particularidade para a formação Econômica. Conforme o pesquisador, na condição de afirmar as etnias, por conta dessas dificuldades, a matriz da nossa formação, dentro de um território como o Geopark Araripe, torna-se necessária uma agenda profícua da URCA.
Para o coordenador executivo do Geopark Araripe, Nivaldo Soares, esse é um processo iniciado pela Universidade, com um trabalho com os índios Cariri em Monte Alverne e Poço Dantas, localidades de Crato, e agora com os pesquisadores da URCA. “Com a Universidade mais fortemente envolvida nesse processo, se espera que possa avançar na valorização desses descendentes e resgate da ancestralidade, dos índios e outras manifestações, muito ricas em nossa região”, disse. Ele destacou o reconhecimento do território pela Unesco, de todo o resgate do Patrimônio Mundial da Chapada do Araripe, fruto de um debate para oficialização desse reconhecimento.
Reconhecimento
O Professor Patrício Melo ainda abordou um pouco do que vem sendo produzido através dos grupos de pesquisa dentro da URCA, no sentido de somar esforços com os setores de estudos na Universidade. Ele afirma a necessidade de fortalecer esse trabalho com pesquisadores, não apenas da URCA, mas de outras instituições. A sua pesquisa nasceu sob a perspectiva do direito dos povos indígenas, olhando o cenário da colonização na América Latina.
No trabalho, o Professor e pesquisador Patrício Melo destaca o processo de formação e as identidades da América Latina, que são muito semelhantes. Uma forma de repensar o conceito de desenvolvimento, que para os povos indígenas era a harmonia, o bem comum.
A conquista da identidade cultural e o futuro das comunidades indígenas continuam sendo debatidos, até pelo aspecto das variações existentes dos povos, como os cariri, carius, karirés. Isso tem a ver com as conquistas através da comprovação dessas identidades e a preservação dos povos originários.
A Constituição de 1988 trouxe uma nova perspectiva na luta pela permanência dos índios em suas terras. No atual momento, há discussões sobre retirada de direitos e garantias nesse processo. No Ceará, diante de uma população de mais de 8 milhões de habitantes, a população indígena declarada chega a 19 mil, percentual menor do que o do Brasil, chegando a 0,2%. No Brasil, chega a 0,4% da população. No Cariri, são apenas 118 pessoas.
Identidade
Segundo o Professor Patrício Melo, buscou-se trabalhar a questão da identidade para poder obter o reconhecimento jurídico; inclusive de poder buscar a questão jurídica dos fatos. O elemento que conecta, principalmente o índio do Nordeste, é a memória coletiva, sobretudo da ancestralidade. “O que está no legado das gerações, mesmo inconscientemente”, afirma.
Os índios não buscam hoje um reconhecimento para recuperar o cocá, a cor…“O reconhecimento que se faz não é só esse, mas de ocupação de território. O primeiro é jurídico, com a questão da terra.
Registro
O registro mais próximo da ancestralidade no Cariri está entre 3 mil anos passados para a presença do homem. Um resgate da pesquisa realizada pela arqueóloga Rosiane Limaverde, na Chapada do Araripe.
A missão do Miranda reúne várias etnias inclusive não índio, como negros, muitos expulsos, e que deu origem a um povo mais miscigenados. Isso se deu por volta de 1780.
As gravuras do Santa Fé apontam o local como lugar de ritual. Muitos moradores do Poço Dantas trazem o sobrenome Cariri e outros daqui e outras regiões continuam com o sobrenome Cariri.
O professor Tiago Florêncio, do Departamento de História da URCA, também na coordenação do seminário, agradeceu as parcerias para a realização do evento, e destacou o trabalho do professor Patrício Melo, além de todo o envolvimento para a realização do evento.
Ele destaca a criação do site através do CNPq e URCA, que pretende dar subsídios aos professores do ensino básico e ensino superior, a trabalharem a história do Ceará colonial em sala de aula. Nos próximos dias o site será disponibilizado com mapas, mostrando os aldeamentos, além de uma série de informações sobre esses espaços.