VIII Artefatos da Cultura Negra aberto nesta quinta-feira, na URCA
29 de setembro de 2017 - 09:14
O VIII Artefatos da Cultura Negra teve abertura oficial na manhã desta quinta-feira, mesmo com suas atividades iniciadas no último dia 26. A programação tem sequência até o dia 30 e contará com diversas atividades. O evento tem como temática central “Educação, Justiça Social e Demandas Contemporâneas”. As atividades do artefatos, planejadas por todo o ano, acontecem de forma ininterrupta. O evento se tornou um instrumento de lutas e conquistas nos últimos anos, segundo os organizadores.
A abertura ocorreu no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri (URCA), campus do Pimenta, e contou com a representação do Reitor da Universidade, Patrício Melo, na abertura, a Professora Arlene Pessoa, Pró-Reitora de Extensão da Instituição. Ela ressaltou a grande contribuição dos debates, que classifica como uma oportunidade da comunidade acadêmica discutir e vivenciar uma temática tão palpitante. A Pró-reitora destaca um dos temas em debate que veio a partir das discussões – o das cotas-, a ser implementado pela URCA provavelmente no próximo Processo Seletivo da Instituição, mas com o percentual de 15% ainda considerado mínimo, pelo movimento, principalmente diante do que estabelece a lei estadual, ao considerar pessoas pardas, o que minimiza mais ainda o número da população negra beneficiada.
A Pró-Reitora ainda deu boas-vindas aos alunos e professores, além de pesquisadores de universidades do Cariri e de outros estados, para dar a sua importante contribuição nos debates e desejou que os participantes aproveitassem ao máximo as discussões.
A conferência de abertura foi ministrada pela Professora Doutora Ana Luiza Pinheiro Flauzina, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela abordou a temática “Genocídio Negro: a Negação da Dor e os Caminhos da Resistência”. Na ocasião, a docente ressaltou a necessidade de proporcionar muito mais uma provocação sobre o tema, suscitando um debate maior.
A representante do Grupo de Valorização Negra do Cariri – Grunec, Verônica Carvalho, destacou a luta empreendida ao longo dos anos, e disse que construir um evento como o artefatos não é fácil. Segundo ela, as provocações, ao longo dos anos, que estão sendo empreendidas, vão muito além das disposições legais. Conforme Verônica, a questão da igualdade racial é um diálogo com a sociedade brasileira. Para a integrante do Grunec, a provocação deve ser incisiva, no combate à discriminação racial. Ela finaliza sua fala de abertura, ao destacar que a riqueza maior da Chapada do Araripe é a cultura e o seu povo preto.
Em sua fala, Joedson Nascimento, ressaltou que sendo o Cariri a região mais agitada pelo movimento negro no Estado, a URCA inserida neste contexto, não poderia aprovar uma proposta de cotas com um percentual pequeno, tendo em vista que pelos dados do último censo do IBGE 2010, o Cariri é a região com maior concentração de negros do Ceará. Portanto, o compromisso da instituição deveria ter sido expressivo para atender com mais correção a dívida histórica e os anseios do povo negro e indígena. Mas que, no entanto, mesmo não sendo a proposta ideal, se fazia importante a vigilância e atuação do movimento negro na luta pela efetivação de tal política. No caso da URCA, a instituição segue atualmente o que está em vigor na lei do Estado.
Uma das idealizadoras e coordenadores do Artefatos, a Professora Dra. Cícera Nunes, da Universidade Regional do Cariri (URCA), disse que o evento tem realizado outras aberturas por onde tem passado, a exemplo da cidade de Brejo Santo. Isso, incluindo mais instituições de ensino participantes. Ela saudou a ancestralidade negra e destacou que o artefatos é, acima de tudo, uma construção coletiva. Aproveitou para agradecer a todos que contribuíram, com um trabalho direcionado o ano inteiro, no intuito de promover reflexões importantes.
A docente se solidarizou ao povo de terreiro, que vem sofrendo ataques de preconceitos na região, além do caso de assassinato de Pamela, ocorrido essa semana. A vítima foi sepultada na última quarta-feira, se configurando como uma caso de transfobia.
Denúncia
Um dos casos de violência e ataque de preconceito foi denunciado ao público, pelo Pai Manoel Santos, do grupo de Umbanda Filhos da Fé. Ele citou que dois homens foram ao centro em que lidera, onde estavam sendo realizados trabalhos na última segunda-feira, por volta das 21h30, e disseram que os integrantes do local tinham uma semana para desocupar a área, em nome de Deus. Caso isso não ocorresse, seriam todos mortos. “Eles permaneceram próximos ao centro, no final dos trabalhos, cantando louvores evangélicos”, disse Pai Manoel.
O artefatos conta com a realização do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais – NEGRER, o Departamento de Educação da URCA, do Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC, da Universidade Federal do Cariri – UFCA e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFCE/Juazeiro do Norte.
Temáticas da Africanidade e Afrodescendência
O Congresso Artefatos da Cultura Negra configura-se enquanto importante espaço de formação nas temáticas da Africanidade e Afrodescendência no Cariri cearense, e um caminho de enfrentamento às práticas e conceitos racistas historicamente construídos, uma vez que apresenta abordagens propositivas e potencializadoras de processos de empoderamento a cada edição.
O evento tem estabelecido interlocução com as reivindicações de combate ao racismo institucional, da implementação de ações afirmativas para a população negra, dos processos de formação docente, das necessidades das universidades revisarem as bases epistêmicas dos seus currículos, dentre outros.
O objetivo do evento é fortalecer espaços de reflexão das principais demandas da população negra na contemporaneidade, bem como construir uma agenda propositiva que aponte caminhos para a superação das desigualdades e construção de uma realidade que positive a importância da África e do povo afrodescendente na construção da sociedade brasileira.
Participação institucional
Nesta edição participarão professores da UFRRJ, UFF, UFBA, UFES, UEBA, URCA, UFC, UFCA, integrantes dos movimentos sociais e dos grupos culturais da região. A programação estará distribuída em 04 polos: UFCA Brejo Santo, UFCA Juazeiro do Norte, IFCE Juazeiro do Norte e URCA Pimenta e contará com 13 mesas redondas, 31 oficinas pedagógicas, 11 apresentação culturais, a Feira de Economia Solidária e 100 trabalhos serão apresentados em 07 simpósios temáticos que versam sobre: a história dos afro-brasileiros e seu ensino, religiosidade de matriz africana, gênero e relações raciais, patrimônio cultural afro-brasileiro, ações afirmativas para a população negra, arte e novas tecnologias de difusão da negritude, racialização, colonialidade e ciências humanas.